O roteiro do impossível
- Outra Cancha
- 23 de nov. de 2020
- 3 min de leitura

Como já avisado no final do post de ontem, hoje é dia 23 de novembro. Dia que está inevitavelmente marcado na história de todo e qualquer flamenguista. Há exatamente um ano, o Flamengo conquistava a segunda Libertadores de sua história, em Lima, no Peru, numa final em jogo único (primeira vez que a competição adotou este modelo na final) e que foi temperada com tudo aquilo que o melhor roteirista de uma partida de futebol poderia escrever. Na verdade, como coloco no título deste texto, cada vez que revejo os gols e as imagens da atmosfera que cercaram essa final (como fiz hoje mais cedo), fico com a sensação de que o impossível se desvencilhou do seu próprio conceito e essência e foi dar um passeio no Estádio Monumental de Lima naquele dia 23.
De diferentes formas, dois curtas que fazem parte da programação do CINEFoot retratam essa aparição do impossível: 23/11, Glória Eterna ao Flamengo, de Ricardo Taves e Adriano Esteves e Catarse, de Daniel Brunet. É sobre eles e sobre o que senti há um ano que vou falar hoje.
O curta de Ricardo Taves e Adriano Esteves foi um produção oficial da própria CONMEBOL Libertadores e é contado a partir da ótica da imprensa que esteve no jogo: trechos das narrações em português (do Brasil e de Portugal), espanhol e inglês vão compondo a história, que tem o seu ápice na virada do Flamengo, com dois gols de Gabigol nos minutos finais. Nesse momento a visão da própria torcida também aparece e as expressões, falas e lágrimas dos torcedores falam por si só: uma enorme espera acabava e acabava da forma mais rubro-negra possível.
É interessante perceber também os detalhes dos gestos, olhares e comemorações dos jogadores dentro de campo. O lançamento de Diego para Gabigol, no lance do gol da virada, é mostrado num silêncio absoluto e a trajetória feita por aquela bola literalmente mudou o destino dessa história, fico pensando, hoje, que um centímetro a mais ou a menos poderia não induzir o erro de Pinola na disputa da bola com Gabigol. No exato momento em que isso aconteceu, como boa parte dos torcedores, eu não estava vendo nada, ainda extasiado com o gol de empate.
Em Catarse, uma outra visão da final é fornecida. O diretor Daniel Brunet era um dos tantos torcedores que viajou até Lima e viu de perto o impossível acontecer. Achei curioso que ele mesmo afirmou, na narração do curta, que preferiu não filmar nada durante o jogo: se fosse ele faria o mesmo! Temos, no entanto, cenas das reações do próprio Daniel, um retrato fiel do que muitos rubro-negros devem ter sentido. A câmera focada na arquibancada mostra também as expressões e reações dos torcedores ao seu redor e a catarse coletiva finalmente ganha espaço na hora do gol da virada. Outro ponto que me chamou a atenção neste segundo curta foi a opção de Daniel de colocar, nos créditos do curta, agradecimentos nominais a todos os jogadores do elenco do Flamengo. Nada mais justo.
Muitos e muitos outros curtas, livros e registros em geral com certeza ainda serão feitos sobre essa final. A distância temporal ainda é muito curta, mas o peculiar e saboroso gosto de ter vivido a história em carne e osso é algo que vira e mexe vem à tona, ainda mais nesse aniversário de um ano da conquista. Semanas depois do título, quando o Flamengo ainda estava se preparando para a disputa do Mundial de Clubes lembro que sonhei que a final não tinha acabado, que a disputa ainda estava em aberto, como se em Lima o tempo e o espaço estivessem parados num momento anterior ao lançamento do Diego. Felizmente, foi só um sonho. Quando a realidade consegue trazer pro jogo o impossível é bem mais interessante!
23 de novembro de 2019 permanecerá sempre vivo na memória e no coração.
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